quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Pais, cuidem de seus filhos

Outro dia uma avataro, amigo meu, sugeriu-me escrever sobre o acontecido que trago aqui, hoje. Por mais que me fosse difícil, meu lado professoral não me permitiria ficar quieta.

O título deste poste é para os pais e mães que a cada dia relegam a formação de seus filhos num mundo cada vez mais arriscado, como é natural e nada estranho, estranha-me apenas a ausência da formação de nossos filhos em nossas casas.

Este post está longe de lição de moral, etc e tal. Está muito mais para a responsabilidade que nós pais e mães temos obrigação de assumirmos ao colocarmos um ser no mundo. Dizermos que somos ocupados demais, que nossos filhos são demais de inteligentes, que o mundo está para eles aprenderem, que você educa sim e que só por isso acredita que ele _ filho ou filha_ jamais mentirá para você, é como ser fanático em um time de futebol rebaixado e falido, desfalcado de técnico e jogadores profissionais* e acreditar em milagres.

Eu sou mãe, tenho duas filhas adolescentes e vivo dilemas diários e solitários da argumentação que devo usar para uma educação que privilegie o bom senso e a responsabilidade que eu assumi desde 1989, quando minha filha mais velha nasceu.

Sempre soube que a ignorância é atrevida, e sempre temi e desafiei este atrevimento, mas temos de entender que advertências devem vir antes de proibições, ou seja a lei da boa argumentação, da comprovação, do nosso estudo profundo da arte de sermos pais e mães deve ser fato real se desejamos ter filhos e filhas saudáveis.

Quando inicie-me no SL, a primeira coisa que fiz foi perguntar quais das duas de minhas filhas havia já visto e queria me explicar. A de 14 anos, não conhecia, a de 17 já havia visto, alguns amigos e amigas tinham, mas não tinha baixado o programa e muito menos tinha um avatar.

Perguntei se alguma delas tinha curiosidade em ver a coisa... A mais velha correu e sentou-se ao meu lado, a mais nova, como para não seria estranho, disse-me que não.

Ficamos sentadas entendendo o que era, para isso abrimos a página em português:

http://www.secondlifebrasil.com.br/cadastro/avatar.aspx

Em letras garrafais encontra-se a advertência:


Classificação Etária

Não recomendado para menores de 18

Como toda advertência, indica-nos em português bem claro que até aqui você, menor de 18 pode ler, daqui para a frente, siga as regras de sua casa, de sua família, de seus pais: pai e mãe, na falta de um siga as ordens do outro, pois você jovem, ainda não adquiriu a maioridade civil!

Tudo é perfeito, até que as regras não são argumentadas de forma clara e explícita! Ou seja, explique para seus filhos TUDO, não omita em nome de falsos pudores, vergonha, ignorância, provoque o conhecimento de seus filhos com um longo diálogo, deixe ele contar aquilo que sabe e vive, conte até mil, depois comece seu trabalho de mãe e pai.

"- Bom, acho que só eu tenho mais de 18 anos em casa...você não deve entrar."

"_ Ah, manhê! Por quê? Eu já vou fazer Vestibular, minhas amigas têm, eu faço tudo certo, você sabe! ( neste momento lacei meu olhar duvidoso de mãe para filha...) Não olha assim, eu conto tudo pra você, mesmo quando você tá neurótica, e fico quieta escutando tudo! às vezes você até tem razão, e quando você tá neurótica (leitor e leitora, acalme-se, eu fico neurótica, sim, mas com razão de mãe, uai), eu respeito e nem choro! (Aqui tive absoluta certeza, é ainda uma criança que precisa de minha orientação). Essa coisa de proibir é absurda, de gente burra, cê não viu aquela propaganda da FOX? Cê até elogiou, na minha frente".

A outra que lia um livro sentada à nossa frente, demonstrou-me que estava muito mais atenta ao que fazíamos que ao livro _"É verdade, mãe! Você até ficou falando sem parar e a gente já tinha entendido tudo!". Concordo que sou às vezes prolixa, para elas, provavelmente, sou o maior exemplo de buscar a objetividade na vida, assim garantirão as diferenças de gerações e melhorarão a prole.

"-Ok! Vamos ver juntas, senta aqui você também (olhando para a outra menor, a que tem 14 anos), e vamos ver o porquê esse trem não é recomendado para menores de 18 anos."

Confesso que senti medo, pois na leitura inicial da página do game, havíamos lido:

"Second Life não pode ser considerado um jogo, pois não existem objetivos ou regras definidas, o único limite é a sua imaginação. Você pode conversar, andar, comprar, construir, voar e até transar.

Ao contrário de outros games que simulam a vida real, Second Life é totalmente controlado por seus próprios jogadores. Os usuários podem fazer seus próprios itens, que são desde móveis e obras de arte, a roupas, casas, veículos e oferecê-los a outras pessoas, cobrando ou não por eles" ( Grifo meu , http://www.kaizengames.com.br/jogos/second_sobre.aspx).

Não sabia o que encontraria, só tinha certeza, não há regras e o limite está na imaginação de milhões de usuários que não acabavam de entrar naquilo, mas que já traziam de experiência e criatividade 4 anos antes de nós... O que adultos fazem, criam, imaginam no mundo? Não sei! Somente sei o que eu gostaria de ter e não tenho, como eu gostaria de ver o mundo, o Brasil e não vejo, só conheço meus princípios e tenho certeza de minha ética, mas dos outros, incluindo aqui as minhas filhas que amo, o que passa na imaginação delas eu jamais poderei sonhar ou ter certeza de saber.

E assim começamos a brincadeira, durante toda uma semana de férias escolares, elas me fizeram a imagem e perfeição que elas desejariam que eu fosse: inicialmente uma coisinha estranha, estranha prá dedeu, que eu até fiquei triste e perguntei: "Credo, eu sou assim tão feia???" Elas riram muito, divertiram-se e por fim, disseram-me que apenas me protegiam, a cada semana mais feia, dos tarados ambulantes que lá encontrávamos, foi uma das grandes oportunidades de nossas férias aprendermos umas as outras, descobrir que minhas filhas queriam me proteger do mundo ruim, maltratado pelos homens, foi-me um grande presente, e era eu que queria protegê-las, eu tive mais medo do que elas, não sei quem de nós três foi mais atrevida nesta viagem de aprendizado.

Quando observei que para minhas finalidades de conhecer o "jogo" aquele monstrinho não serviria, perguntei a elas se podíamos mudar a pobre coitada da mãe protegida, numa avatara um pouco melhor...Elas me fizeram, descobrimos os free shoppings, escolhemos cabelos parecidos aos meus, nariz, altura e um corpo não tão bom quanto o meu real, mas que uma bela acadêmia deixaria igual ainda:-), palavras de minhas filhas.

As duas perderam totalmente o interesse, uma devido a prioridade dos estudos para o Vestibular e o namoradinho, a outra porque gosta do Pingüins, é mais divertido para ela ainda, mesmo com 14 anos, assim como o gosto pela literatura e esporte que ela tem, por isso o uso do computador fica muito mais para pesquisas, escrever e-mails, orkut algumas vezes, mas sinto que sua significação para as possibilidades da Internet é de quem já nasceu neste mundo conectado, diferente das minhas expectativas.

Resumindo a história, fiquei só eu no SL! Mas antes disso, vimos muitas coisas nas diferentes ilhas, oportunidade fantástica de muito diálogo, aproximação, explicação de minha parte, até que a mais filha, olhou para a mais nova e disse:
"Se eu fosse sua mãe, não deixaria você entrar numa coisa dessas, eu batia em você!"
A minha pequena, riu, como sempre faz quando a mais velha impõe ares de autoritarismo, e não foi preciso proibir, ou ser autoritária, para elas entenderem que lá talvez não seja a melhor margem do Rio para elas alcançarem ainda, podem esperar os 18 anos para entrar ou escolher não entrar pois já sabem o que há lá, isso dará a oportunidade delas encontrarem outras margens de rios, melhores, piores...eu não sei, mas sei que desta vez estive junto, remando lado a lado para continuarmos o nosso percurso rio sem transformá-lo em poça solitária de água a se esvaziar.

Pais, cuidem de seus filhos, não os deixem tão sós, permitam que suas vidas sejam um discurso de perfeito rio.

Como eu gosto de João Cabral de Melo Neto e Rosa, aprendi para a vida suas palavras, li intensamente minha adolescência, brinquei, namorei, beijei, amei, sofri, vivi, não posso esquecer.




* Não entendo e não faço a mínima questão de entender nada de futebol, por isso se estiver incorreta na aproximação que me perdoem os fanáticos;-).

*** Há um recado aqui intencional para pais que não estão olhando por seus filhos e os deixam viver aquilo que eles ainda não podem entender sozinhos, eu fiquei uma hora falando com um/a jovem que não tinha mais de 12 anos no SL, pedi para ouvir seus pais, conversar e seguir a recomendação, Não recomendado para menores de 18 . Não entregue seu filho a um mundo não recomendado ainda a ele sem estar ao seu lado.

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