terça-feira, 10 de julho de 2007

Entre o virtual e o real no SL e na RL, elocubrações somente elocubrações...

Concordo com Tim Guest ( autor de "Second Lives - A Journey Through Virtual Worlds")
em sua entrevista na Folha de São Paulo, em 10/07/2007, quando aborda as possibilidades ainda não esgotas do SL.

Lévy, em 1995 já avisava, que a virtalização é inevitável. Por sua vez Deleuze nos diz que "o virtual possui uma plena realidade, enquanto virtual".

O processo de virtualização no mundo moderno que vivenciamos chega a me passar a impressão que é muito mais complexo do que entendemos hoje como comunicação interpessoal.

A virtualização é tão dinâmica que pode parecer assutadora e criar fantasias-mitos preocupantes. Virtalizar é não exigir a presença física-geográfica, mas exige presença moral, ética.

Encurtam-se as distâncias, porém não há anulação de tempo, posto que precisamos estar e ser presentes na virtualidade temporal. É outro deslocamente físico-psicológico que se realiza, mas o tempo perpetua este mesmo deslocamento e faz-se necessário entendê-lo.

A virtualização não é desaparecimento nem desmaterialização. Há o que Pierre Lévy chama de "desterritorialização física". "Virtualizar é arrancar-se ao aqui e agora ou desterritorializar-se". Não há uma imaterialidade no virtual, "o conhecimento e a informação não se tornam imateriais, mas desterritorializados".

O que quero dizer é que sou virtual sem deixar de ser real, pois a partir do momento em que tenho acionadas as condições de me exercer virtualmente enquanto professora em meios digitais, enquanto ser que fala, ri, chora com amigos pelo Skype, enquanto, profissional que se comunica e desenvolve reuniãos online em qualquer parte do mundo que me dê condições de acesso. O meu virtual passa a ser real em potência, é ato, ação, isto é, se concretizará.

Estaríamos aqui muito longe de pensar que o virtual levaria a uma fuga, ou ao falso, ao imaginário, ao fantasioso enquanto ação de quem o pratica.

O virtual é somente um caminho um pouco novo para alguns e por isso talvez tenhamos de entender o "medo", o "receio" inicial daqueles que usam os meios digitais.

O virtual é o potencial que temos enquanto existimos, isso pode assustar, mas a própria tensão gerada nessa potencialidade de existirmos nos faz solucionarmos problemas, usarmos de nossa criatividade porque fomos ao conhecimento, requisitamos isto em nós.

Second life e Real Life podem ser a mesma coisa, pois mesmo que se crie um personagem físico diferente de nós, dificilmente não seremos nós mesmos lá dentro, nossas angústias, nossos sonhos, nossas realizações, nossa economia, nossa educação...

Estive numa ilha bizarra dia destes, seres estranhos, armados até as tampas, eu me vesti de gala para passear pelos bosques daquela ilha, dificílima de entrar, retirando todos os descontos da minha incapacidade motora algumas vezes, sou na RL meio descontrolada, diriam os mais amigos, simplesmente estabanada...

Bom, encontrei um castelo, cliquei na porta e com o mouse, em touch para abrir. Era um castelo musical, cada andar você podia compor suas músicas com os instrumentos ali dispostos, havia um velho e um ser meio gato, sei lá o que era. O velho queria dançar, o ser estranho apenas olhava, eu comecei a tocar os instrumentos e deles tirar sons diversos, que não classificaria como música.

Num dado momento um outro ser, aparentemente avataro normal (sarado, bonito, olhos azuis etc), trazia consigo uma arma poderesa e começou a atirar em nós, ninguém deu bola para ele, o velho permaneceu dançando, o ser estranho olhando e eu tocando.

Sai do castelo e comecei a passear, o armado atrás de mim atirando, "go home" e um palavrão qualquer, deduzi pelas letras maiúsculas que escrevia, judiação, quais tormentos não traria aquele ser armado em seus pensamentos, quão triste e preconceituoso este ser não seria? Acredito sim, que levamos aquilo que realmente somos em qualquer lugar, com maior intensidade, com menor, somos de alguma forma aquilo que representamos em 3D.


"Estamos longe da concepção de um virtual destruidor da realidade humana que, como um vasto útero irresponsável, abrigaria todas as ilusões e fugas de um real doloroso e indesejável" (
CAIO, sem data, JE), pois não é o virtual o destruidor, somos nós mesmos dolorosos seres.

E parodiando o mesmo autor diria que não devemos ter medo dos caminhos virtuais que temos hoje, no caso o SL ou qualquer outro jogo que se faça, é só uma nova forma de nos conectarmos ao mundo, de conhecermos novas culturas , pessoas, idéias, novas manifestações econômicas, novas formas de amor e amar, por que não...sem deixarmos de ser aquilo que realmente somos.


Só para lembrar:

LÉVY, Pierre. O que é virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo, Ed. 34, 1996. 157p.

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